sexta-feira, 27 de abril de 2012

Repito

Sou o que sou
Pelo que sou
Pelo que já falei do que era
Pelo que fui e ainda vou ser
Pelos meus versos repetidos
Escritos na calada do amanhecer
Pelos meus atos tão iguais
Pelas inseguranças, pelas discordâncias
Por ser aquilo que eu sou e não mudar
Ver as coisas indo em fluxos pares
E dizendo: pare!
Aquele que acha que o que sou
Não é o que eu digo ser
Nem o que mostro
Porque ninguém e mais ninguém
Tem que dizer o que eu mostro
Se é mentira ou verdade
Já é de lei
Eu que sei

terça-feira, 17 de abril de 2012

Como uma tarde de domingo

Aquele clarão fora embora
Para voltar outrora
Claro clarão
Soprando o chão
Sujo das pétalas das almas sem amor

Lá onde há
Regas teu palmar e tuas acácias
Gosto de flor
Nos meus olhos
Que assim veem
O verde saindo desse marrom

Se sou não há vestígios
Do que os ventos trouxeram-me
Se a mesma letra me vem as mãos
Escrevo-a então nos pensamentos de ante-ontem
Molhados pelas gotas no orvalho
Caídas em beira o assoalho

Reflito-me
Feito de um reflexo na parede
Das minhas sombras
Iluminadas pelo acaso

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Já dizia...

Moça linda
Do cheiro de fulô
Chega mais pra cá
Me dá um gole do teu amor

E lá na beira do riacho
Canto pra você um ''lauê, lauê''
Choro, suplico
Tropeço nos teus cabelos

E minha tristeza
Da triste partida ou não
É não viver andando
É não voltar pro meu Sertão

Passa

No chão, as pétalas
Derramas pela casa
Já não se ouvia outro barulho além do das lágrimas
Escorrendo nos olhos daqueles que sentem dor

Já não se vê mais
Nem se pega, nem se olha
A ponte pro adeus foi construída
E, depois do surto, sumiu

Então, eis que chega
Um farol no escuro
Um calor, um aconchego, um conforto
Um abraço apertado

É tristeza no tal lugar
E alegria sabe-se lá onde
Sobe, passa, passa
Perda não, passagem

terça-feira, 3 de abril de 2012

Maquinados

Máquinas de gente
Maquinada
Pessoas industrializadas

Nada manual
Sem manufaturas
Globalização

As de hoje
Serão as de ontem, amanhã
Sem se reciclarem

Coração a pilha
Cérebro a vapor
Descarrega, recarrega, baterias

Coloco-te numa tomada
Ex pulsante, ex vibrante
Agora cheio de engrenagens enferrujadas

Aperto pra seguir em frente
Aperto para parar
Botões, engrenagens, máquinas, enfim